domingo, 10 de maio de 2009

quarta-feira, 29 de abril de 2009

   As vezes eu queria estancar o fluxo dos pensamentos, desligar o sol que queima em minha memória, apagar as lembranças, que me deixam o dia todo indo e vindo pra lugar nenhum. Clamo pelo sono que nunca chega na hora que eu mais preciso, a única presença é desse fantasma de sete cabeças horrendo que não me assusta mais , mas que me incomoda com sua fala estridente nos ouvidos dos meus pensamentos. Pois é , tem dias que são assim.
   Tem dias que a única saída é por pra fora o que ficou há muito tempo trancado e empoeirado, por pra fora como um vômito, uma flatulência, um escarro, uma lágrima. Mas são várias as lágrimas, lágrimas que lavam uma sujeira ancestral, de lembranças de antepassados, que foram embora deixando um rastro impregnado no sótão do meu inconsciente, como no Retrato de Dorian Gray, lá no sótão havia aquele quadro com sua imagem aterrorizante, a imagem de todas as vilanias de um ser que apresentava uma face sem nenhuma mácula perante os mortais, enquanto que ele jamais envelheceria, o retrato cumpriria esse papel "terrível" de envelhecer por ele.
    Não tenho medo da velhice, quero mais é que venha essa aliada do tempo, ela será minha amiga, minha mentora, pois de amizades sou mesmo pobre, muito pobre. É que os amigos mordem, a gente nunca sabe do que são capazes, as pessoas sofrem de uma metamorfose constante, mas voltando ao assunto, como sou uma pessoa totalmente desprovida de vaidades, a velhice realmente não me mete medo algum, o único medo que ela poderia me causar seria o de estar mais perto da morte, mas como essa também não me impressiona, que venha a morte também, pois é lá que está o alívio para todos esses tormentos existenciais, caso haja um outro lado, pois é nisso que acredito, com certeza é bem melhor que esse lado de cá, disso não tenho nenhuma dúvida, é lá que as máscaras caem, é lá que todo mundo é uma unidade realmente, pois isso de igualdade aqui na terra nunca existiu, é uma grande utopia, como o socialismo, enfim, tem dias que são assim, a gente se sente tão vazio, aí começa a pensar em um monte de coisas, do tipo: pra quê eu existo?Pra quê eu sirvo?Na verdade todo mundo serva pra a mesmíssima coisa:acumular lembranças, experiências, formular conceitos, aprender, ensinar, aprender e aprender...É isso aí! 
    

quinta-feira, 19 de março de 2009

Cantar e voar




Ontem cantei um canto desafinado,
Cantei com vontade de cantar,
Cantei sem intenção de ferir,
Sem intenção de mostrar dotes musicais,
Canto como quem sorri alto
E incomoda os transeuntes
Invejosos da minha falta de vergonha.
Canto como quem chora
E lava a alma com lágrimas musicais.
Felicidade é a de ser pássaro,
Cantar e voar,
Sem críticos para avaliar,
A subtonação da nota musical,
A aerodinâmica de um vôo aeroespacial,
Nada traduz o prazer de ser pássaro.
Nada traduz a liberdade de querer ser pássaro.








quinta-feira, 12 de março de 2009

Mente em erupção




Revolvo os papéis da minha memória,
A atividade cessou sua produção.
O medo foi extinto
Por uma breve combustão.
O mercúrio estancou
As larvas do meu vulcão.
Voltei ao princípio de toda criação,
Revolvendo papéis extintos,
Na minha clara escuridão.
As palavras se organizam
Em uma grande confusão,
Pois as idéias carbonizaram
Nas larvas do meu vulcão.
Corro ao redor do quarto
Com a cabeça em erupção,
Volto a caneta ao papel
Impulsionando minha pobre mão,
Enfim irei me jogar,
Junto aos papéis, a caneta, a solidão...
As larvas desse furioso vulcão.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Não me ame mais



Não me ame mais.
Deixe que o amor se entorpeça
Em sua única melodia
Simples e sem sobressaltos.
Não me ame mais.
Por que o amor pode ser demais
Até não caber em nós.
Pode ser fardo,
Prisão sem sol, sem chuva,
Sem nenhuma inspiração.
respiremos o amor,
Vamos deixar que entre
Sem perguntar de quem foi,
Para onde vai.
Esse amor que nos damos
Será nosso para sempre,
E se deixar de existir
Nunca será de nínguem.
Caso venha outro amor,
Será amor novo,
Amor com cheiro de flor de maio.

Anjo sem asas




Uns pássaros são cinzentos,
Outros são azulados,
Mas isto não importa,
O que importa é que eles voam alto
E não tem medo da descida,
Que numa trovoada mágica
Atinge o medo e gela a alma,
Anunciando que o medo
É o nosso irmão mais velho,
Que nos priva do perigo
E nos leva de volta ao lar,
Onde tudo permanece em seu devido lugar,
Onde os objetos irritantemente imóveis
Subestimam a nossa capacidade
De discernimento.
E num grito surdamente calado,
Ensurdecedoramente barulhento,
Fere com o punhal invisível do tempo,
O corpo já atrofiado e esquecido
Pela deformidade das suas asas.

Olhos impunes





Daqui desta arquibancada
A tudo observo inválida,
Homens, mulheres e lágrimas
Constantemente são derramadas.
Os olhos cravados no chão da cidade,
As múltiplas sombras de um só corpo,
As calçadas, gélidas e indiferentes
A cada tambo.
Os gritos que daqui e ali ressoam
Gelam ainda mais o ar da madrugada,
Gelam ainda mais
As almas esfaceladas pelo medo.
Embriagadas de angústia,
Ou um vinho barato, vermelho e confidente,
O último de uma velha safra
Indesejável e contundente,
Triturando ainda mais
Da sobriedade que ainda restava
Daquele corpo raquítico e edemático,
Que ainda possui a esperança geriátrica,
De ter sua sentença elástica
Junto a ele enterrada.
Daqui desta arquibancada
A tudo observo apática.
Tenho dois olhos impunes,
Mil faces na cara,
E sou mais uma vítima
Que sente a dor ebriática,
De ter sanidade de sobra
E não ter inocência em nada.