terça-feira, 15 de dezembro de 2009





XVII


Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eue tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Forma levando qualquer coisa minha...

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! Desta mão, avaremente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror!Voejai
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca.

Tirado do livro: Rua dos cataventos (Mário Quintana)

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